Artistas, Cineastas e Investigadores

Tiago Afonso

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Tiago Afonso

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Sobre a minha relação com o cinema amador, deparo-me imediatamente com duas questões, uma sendo o/os significado/os da palavra “amador”, outra, a que distância está o meu trabalho deste conceito.

Uma filmografia pode ser considerada amadora quando se opõe a uma profissional; quando não se trata da atividade principal do autor; quando não promove rendimentos; quando o formato de captação é denominado de pequeno; quando não existe uma equipa especializada; quando se produz por amor à camisola e não por obrigação profissional; quando os temas focados se situam no campo da intimidade (família, crianças, férias e outros momentos de exceção como casamentos e batizados)...

No meu caso, grande parte dos projetos que realizei foram filmados em Super8 ou com câmaras de vídeo de baixa resolução; colaborei umas meras 5, 6 vezes com equipas especializadas (num universo de mais de trinta filmes); raramente obtive ganhos de ordem financeira com os meus trabalhos; em quatro exemplos do meu trabalho o tema é a família, a infância dos meus filhos ou a casa onde vivo; sempre filmei por necessidade e tive sempre dificuldade em desenvolver projetos que não fossem concretizados em pouco tempo, daí uma certa dificuldade em cooperar com o sistema de distribuição de financiamentos estatais.

Por outro lado, quando me perguntam qual é a minha profissão, respondo categoricamente, realizador e que vejo as minhas outras atividades como secundárias (apesar do fato de ser com estas atividades secundárias que me sustento).

Nunca me vi como um cineasta amador, talvez por presunção, mas verifico que a maioria dos meus trabalhos têm características de cinema não profissional, de cinema feito com amor.

Há quem diga que filmar é aprender a amar e, infeliz e inevitavelmente o profissionalismo desemboca no papel de funcionário (com mais ou menos amor envolvido), portanto, eu diria que o meu cinema se move por um desejo amador e por uma necessidade profissional, necessidade esta que se prende essencialmente com os sistemas de distribuição e a vontade de qualquer criador de mostrar, o mais possível, o seu trabalho.

Cheguei à conclusão que não crio nem objetos amadores nem profissionais, mas antes, filmes limitados e potenciados pelas circunstâncias do momento.

Acabaria por apelidar o meu cinema de pro-amador.

Tiago Afonso

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